O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, participa de coletiva de imprensa em Washington, D.C., Estados Unidos, em 30 de julho de 2025. (Xinhua/Hu Yousong)
Apesar dos dados do PIB mostrarem crescimento econômico geral, a demanda básica do setor privado, impulsionada por consumidores e empresas, "desacelerou pelo terceiro trimestre consecutivo", disseram Tim Quinlan e Shannon Grein, economistas da Wells Fargo Economics, em uma análise.
Washington, 31 jul (Xinhua) -- O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) manteve sua taxa básica de juros inalterada entre 4,25% e 4,5%, apesar da pressão da Casa Branca para flexibilizar a política monetária.
O anúncio feito na quarta-feira reflete a postura de "esperar para ver" do Fed, enquanto monitora o impacto das tarifas generalizadas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a inflação.
"Embora as oscilações nas exportações líquidas continuem afetando os dados, indicadores recentes sugerem que o crescimento da atividade econômica se moderou no primeiro semestre do ano", afirmou o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) em comunicado na quarta-feira. "A taxa de desemprego permanece baixa e as condições do mercado de trabalho continuam sólidas. A inflação está relativamente elevada".
Apesar de sinais de que a economia esteja em expansão, a inflação, que vinha se consolidando no governo anterior, continua acima da meta de 2% de longo prazo do Fed.
Embora o relatório do PIB de quarta-feira tenha mostrado um crescimento robusto de 3% no segundo trimestre, os custos com alimentação e moradia seguem em níveis recordes, pressionando os orçamentos familiares. Alguns economistas alertam que o corte das taxas de juros pode aumentar ainda mais a inflação.
Mesmo assim, alguns economistas esperam que o Fed reduza as taxas de juros ainda este ano, embora provavelmente não na medida defendida pelo governo Trump.
Gary Hufbauer, pesquisador sênior não residente do Instituto Peterson de Economia Internacional, disse à Xinhua: "Acredito que um corte de 0,5% na taxa de juros em setembro seja muito provável, devido à desaceleração da economia. O investimento empresarial foi muito fraco no segundo trimestre e não espero uma grande recuperação no terceiro".
"Os gastos do consumidor se mantiveram no segundo trimestre, mas prevejo uma desaceleração no terceiro. Ao mesmo tempo, demissões e deportações federais causarão impactos", disse Hufbauer.
"A probabilidade de uma recessão está diminuindo, mas ainda acho que começará no quarto trimestre", disse ele.
Apesar dos dados do PIB mostrarem crescimento econômico geral, a demanda básica do setor privado, impulsionada por consumidores e empresas, "desacelerou pelo terceiro trimestre consecutivo", disseram Tim Quinlan e Shannon Grein, economistas do Wells Fargo Economics, em uma análise.
Dean Baker, economista sênior do Centro de Pesquisa Econômica e Política, disse à Xinhua: "O núcleo do PCE (gastos com consumo pessoal) aumentou a uma taxa anual de quase 3% no primeiro semestre e, com a imposição de mais tarifas no segundo semestre, é difícil prever uma queda". O núcleo do PCE mede as variações nos preços que os consumidores pagam por bens e serviços, mas exclui alimentos e energia voláteis.
"O Fed até pode decidir reduzir as taxas de qualquer maneira, mas o motivo será fraqueza, não força", disse Baker.
Tudo isso ocorre após meses de pressão de Trump sobre o presidente do Fed, Jerome Powell, para cortar as taxas de juros, embora especialistas considerem improvável que Powell ceda.
Darrell West, membro sênior da Brookings Institution, disse à Xinhua: "Powell não cortará as taxas até que os dados sobre crescimento econômico e empregos indiquem que isso é necessário... Trump não tem muita influência além de anunciar o sucessor de Powell com antecedência, para pressionar as autoridades do Fed a seguirem a nova liderança".
O cargo de chefe do Fed é independente da Casa Branca, de acordo com especialistas como Clay Ramsay, pesquisador sênior associado do Centro de Estudos Internacionais e de Segurança de Maryland, que disse à Xinhua: "Trump tem pouca influência sobre Powell... Seus esforços para desacreditar Powell diante do público não estão funcionando com os republicanos".